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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Capítulo 4 – Um hóspede inesperado




O marido de Maria estaciona o carro em frente a casa de Meg. Ela desce e pega o Cocker no colo. Maria desce também para ajuda-la.

Maria: Pena que não tem nenhuma clínica veterinária aberta nessa região.

Meg: Mas ele está bem. Veja, está só mancando um pouco. Amanhã peço pra minha irmã levar ele ao veterinário.

Maria: (Sussurrando). Vou tentar convencer meu marido a ficar com ele, caso você não ache o dono. Sou louca por um Cocker! Você já tem uma cachorrinha, né?! Sei como um cãozinho dá trabalho. Imagine dois!

Meg: É verdade. Vou tentar achar o dono primeiro, pois todo animal de estimação sente muita falta do dono. Tenho que tirar foto dele, fazer um cartaz e distribuir próximo de onde foi encontrado.

Maria: Boa ideia! Bem... Boa sorte com o cãozinho. Depois me liga pra dizer como ele está!

Meg: Pode deixar que eu ligo sim, Maria. Muito obrigada! (Acenando para o marido de Maria). Paulo, muito obrigada e desculpe o incomodo.

Paulo: Não foi nada. Boa noite!

Sophia ouve a voz de sua mãe e em seguida fica passada ao vê-la segurando um cãozinho no colo.

Sophia:  Não pode ser! Minha mãe arranjou outro bebê! Buaaaaa! Mas eu ainda sou pequenininha! Ainda sou uma criança! Uma criança carente! Agora vou perder meu colo!  Buaaaa!

Meg: (Olhando para Sophia). Oh! Meu amor! Não precisa chorar! Tadinho. Ele tá dodói. Já, já a mamãe brinca com você. Deixa só eu arrumar um cantinho pro “Dodói”

Rita chega logo depois.

Rita: De quem é esse cachorro?!

Meg: Ele foi atropelado, Rita. Por favor, coloca a Sophia lá dentro, pois o Cocker tá cheio de carrapato e sarna.

Rita: Ai, credo!

Rita leva Sophia para dentro de casa e fecha as portas, deixando apenas o vitrô da sala aberto. Sophia sobe no sofá para poder ver o Dodói através do vitrô que dá para o quintal dos fundos. Dodói come ração e bebe a água. Depois anda pelo quintal  e faz coco no chão.

Sophia:  (Latindo para o Dodói). Seu cagão! Não sabe nem fazer as necessidades em cima do jornal! Cão sarnento! Volta pra sua casa! Aqui é meu território! E aquela é minha mãe!

Dodói: (Com voz tremula de velho). Você não tem piedade de um pobre velho ferido e perdido? Ah! Os jovens de hoje não respeitam mais os idosos.

Sophia: (Surpresa). Nossa! Desculpe! Não havia reparado que o senhor é idoso. Pensei que fosse um garotinho no colo da minha mãe. Eu ainda sou criança e não quero perder meu colo.

Dodói: Ah! Percebi que você é criança. Se quiser um vovô estou ao seu dispor. Sempre fui louco pra ter netos, mas não me chame de senhor. Pode me chamar de vovô Wilber.

Sofia: Está bem vovô Wilber. O meu nome é Sophia, mas o que aconteceu?

Wilber: Meu pai saiu de casa pra ir encontrar sua namorada Carla. Só que eu tenho um tio malvado que aproveitou que fiquei sozinho, colocou a coleira em meu pescoço; no início fiquei contente pensando que ele ia me levar pra dar uma volta, mas depois ele me colocou num carro, foi para um lugar que eu nunca tinha ido e me largou no meio do mato. Eu já sou velho. Tenho catarata nos dois olhos e estou meio surdo. Meu faro também já não é tão bom como o de um jovem. Por isso, fiquei perdido, andando pelas ruas tentando achar minha casa.

Sophia:  (Chorando). Buaaaa! Que história triste!

Meg: Sophia, pare de chorar ! (Diz Meg sorrindo). Mas que ciumenta!

Sophia:  Não sou ciumenta! Tô chorando porque me comovi com a história do vovô Wilber. (Olha para Wilber). Não liga não. Minha mãe não entende nada do que eu falo.

Wilber: Isso é natural. Os humanos não podem entender a gente.

Sophia:  Por que você fala desse modo? Até parece que nós somos ETs!

Wilber:  Xi! Já vi casos iguais ao seu. Você acha que é gente, não é?

Sophia:  Como? Ce tá me ofendendo com essa brincadeira! Pare com isso!

Wilber: Ai, meu Deus! Mais um da minha espécie com crise de identidade! Menina escute bem: sei que não vai gostar do que vou lhe dizer, mas é para seu próprio bem. Você não percebeu ainda porque deve ser tratada como uma criança nessa casa e também convive mais com as pessoas do que com os seres da sua espécie. Mas, sinto em lhe informar que eu e você somos cachorros.

Sophia:  Ah! Ah! Ah! Você ficou maluco?

Wilber: Não. Não estou maluco e nem gagá.

Sophia:  Deve ter sido a pancada então. Que absurdo!

Wilber: A pancada não afetou minha cabeça, apenas minha pata. Raciocine comigo: por que sua mãe não entende nada do que você fala? Ela não entendeu também nada do que eu disse a você. Pode reparar. Ela continua me chamando de Dodói.

Sophia:  Você está tentando me deixar maluca, seu velho gagá!

Wilber: Só estou querendo te ajudar, sua chata!

Meg: (Olhando para Sophia e Wilber latindo). Ai, meu Deus! Parem de brigar vocês dois! Não pode ficar latindo essa hora da noite, incomodando os vizinhos! (Pegou Wilber no colo e o levou para o sótão).

Wilber: (Olhando para trás e gritando de longe). Viu só? Ela disse latindooooo!

Sophia  deitou, mas não conseguiu dormir, pois aquela palavra ficou martelando na sua mente a noite inteira como um eco: “latindoooo”!


Sophia:  Ai meu Deus! Estou confusa. Quero acordar desse pesadelo!

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