O marido de Maria
estaciona o carro em frente a casa de Meg. Ela desce e pega o Cocker no
colo. Maria desce também para ajuda-la.
Maria: Pena que não tem nenhuma
clínica veterinária aberta nessa região.
Meg: Mas ele está bem. Veja,
está só mancando um pouco. Amanhã peço pra minha irmã levar ele ao
veterinário.
Maria: (Sussurrando). Vou
tentar convencer meu marido a ficar com ele, caso você não ache o dono. Sou
louca por um Cocker! Você já tem uma cachorrinha, né?! Sei como um cãozinho dá
trabalho. Imagine dois!
Meg: É verdade. Vou
tentar achar o dono primeiro, pois todo animal de estimação
sente muita falta do dono. Tenho que tirar foto dele, fazer um cartaz e
distribuir próximo de onde foi encontrado.
Maria: Boa ideia! Bem... Boa
sorte com o cãozinho. Depois me liga pra dizer como ele está!
Meg: Pode deixar que eu ligo
sim, Maria. Muito obrigada! (Acenando para o marido de Maria). Paulo, muito obrigada e
desculpe o incomodo.
Paulo: Não foi nada. Boa
noite!
Sophia ouve a voz de sua
mãe e em seguida fica passada ao vê-la segurando um cãozinho no colo.
Sophia: Não pode ser! Minha mãe
arranjou outro bebê! Buaaaaa! Mas eu ainda sou pequenininha! Ainda sou uma
criança! Uma criança carente! Agora vou perder meu colo! Buaaaa!
Meg: (Olhando para Sophia).
Oh! Meu amor! Não precisa chorar! Tadinho. Ele tá dodói. Já, já a mamãe brinca
com você. Deixa só eu arrumar um cantinho pro “Dodói”
Rita chega logo depois.
Rita: De quem é esse cachorro?!
Meg: Ele foi atropelado,
Rita. Por favor, coloca a Sophia lá dentro, pois o Cocker tá cheio de carrapato
e sarna.
Rita: Ai, credo!
Rita leva Sophia para
dentro de casa e fecha as portas, deixando apenas o vitrô da sala aberto.
Sophia sobe no sofá para poder ver o Dodói através do vitrô que dá para o
quintal dos fundos. Dodói come ração e bebe a água. Depois anda pelo
quintal e faz coco no chão.
Sophia: (Latindo para o
Dodói). Seu cagão! Não sabe nem fazer as necessidades em cima do jornal! Cão
sarnento! Volta pra sua casa! Aqui é meu território! E aquela é minha mãe!
Dodói: (Com voz tremula de
velho). Você não tem piedade de um pobre velho ferido e perdido? Ah! Os jovens
de hoje não respeitam mais os idosos.
Sophia: (Surpresa). Nossa!
Desculpe! Não havia reparado que o senhor é idoso. Pensei que fosse um
garotinho no colo da minha mãe. Eu ainda sou criança e não quero perder meu
colo.
Dodói: Ah! Percebi que você é
criança. Se quiser um vovô estou ao seu dispor. Sempre fui louco pra ter netos, mas não me chame de senhor. Pode me chamar de vovô Wilber.
Sofia: Está bem vovô Wilber. O
meu nome é Sophia, mas o que aconteceu?
Wilber: Meu pai saiu de casa pra
ir encontrar sua namorada Carla. Só que eu tenho um tio malvado que aproveitou
que fiquei sozinho, colocou a coleira em meu pescoço; no início fiquei contente
pensando que ele ia me levar pra dar uma volta, mas depois ele me colocou num
carro, foi para um lugar que eu nunca tinha ido e me largou no meio do mato. Eu
já sou velho. Tenho catarata nos dois olhos e estou meio surdo. Meu faro também
já não é tão bom como o de um jovem. Por isso, fiquei perdido, andando pelas
ruas tentando achar minha casa.
Sophia: (Chorando).
Buaaaa! Que história triste!
Meg: Sophia, pare de chorar
! (Diz Meg sorrindo). Mas que ciumenta!
Sophia: Não sou ciumenta! Tô chorando porque me comovi com a história do vovô Wilber. (Olha para
Wilber). Não liga não. Minha mãe não entende nada do que eu falo.
Wilber: Isso é natural. Os
humanos não podem entender a gente.
Sophia: Por que você fala desse
modo? Até parece que nós somos ETs!
Wilber: Xi! Já vi casos iguais
ao seu. Você acha que é gente, não é?
Sophia: Como? Ce tá me ofendendo
com essa brincadeira! Pare com isso!
Wilber: Ai, meu Deus! Mais um
da minha espécie com crise de identidade! Menina escute bem: sei que não vai
gostar do que vou lhe dizer, mas é para seu próprio bem. Você não percebeu
ainda porque deve ser tratada como uma criança nessa casa e também convive mais
com as pessoas do que com os seres da sua espécie. Mas, sinto em lhe informar
que eu e você somos cachorros.
Sophia: Ah! Ah! Ah! Você
ficou maluco?
Wilber: Não. Não estou maluco e
nem gagá.
Sophia: Deve ter sido a
pancada então. Que absurdo!
Wilber: A pancada não afetou
minha cabeça, apenas minha pata. Raciocine comigo: por que sua mãe não
entende nada do que você fala? Ela não entendeu também nada do que eu disse a
você. Pode reparar. Ela continua me chamando de Dodói.
Sophia: Você está tentando me
deixar maluca, seu velho gagá!
Wilber: Só estou querendo te
ajudar, sua chata!
Meg: (Olhando para Sophia
e Wilber latindo). Ai, meu Deus! Parem de brigar vocês dois! Não pode
ficar latindo essa hora da noite, incomodando os vizinhos! (Pegou Wilber
no colo e o levou para o sótão).
Wilber: (Olhando para trás e
gritando de longe). Viu só? Ela disse latindooooo!
Sophia deitou, mas
não conseguiu dormir, pois aquela palavra ficou martelando na sua mente a noite
inteira como um eco: “latindoooo”!
Sophia: Ai meu Deus! Estou
confusa. Quero acordar desse pesadelo!